(EN)
Lisbon, 25.11.18 Beauty is beauty. A tautology. Yes, and there is no mistaking it. And therefore perhaps also a teleology, at least for some artists. If it is beauty that we are looking for, we always know when we find it, even if we later decide to reject or destroy it. So, what if an artist decides not to seek beauty from the outset? She sets off towards a work, a project or an exhibition not looking for an end, but with the intention of taking a risk, exploring new geographies, having new experiences. A risk is less tautological. A risk is not just a risk. This is partly what Ana Morgadinho took on with this exhibition, HSD (Hic Sunt Dracones) - here be dragons - a phrase used in medieval cartography to designate unknown territories, yet to be discovered, and therefore, at the outset, risky, possibly dangerous. Morgadinho's process is always driven by the material and the possibilities of it producing meaning, through observation of the world and studio work. Whether with found materials or with intentionally chosen ones, the artist is interested in working with them, combining them, until arriving at a drawing that makes sense. In a way, until finding beauty. However, with this exhibition the artist was challenged to take a new path: she was invited to materialize a project that she had planned in drawings of forms made with compacted earth. The shapes were chosen in part based on the architecture of the A Montanha gallery, the formworks were commissioned, 1000 kg of earth arrived from Germany, trials were carried out, some that went wrong, breaking the formworks, others that showed that the earth, once compacted, was impossible to move, which meant that the works had to be made in situ, in the gallery space, and so, in three days, the artist, with some help, will create the works at A Montanha. It may turn out beautifully or go very wrong. This might be an exhibition about the intense and simple beauty of ancestral materials and practices, about the repeated gesture and physical pain with which perfection is attained, or something else is attained, or nothing at all (is that possible?), about the connection between the modern and the archaic, about making and contemplating, about forming and transforming, or it might be an exhibition about failure, about risk and danger. Where there are dragons there is fire. The former exhibition can be visualised but not the latter. Both may be contemplated. Failure also has meaning, and even if the artist is successful in this challenge (which is what we are hoping for) the courage to have taken on the risk of failure has become inherent to the process, and this already leads somewhere. Will there always be dragons? Who knows. But let there always be fire. Eva Oddo |
(PT)
Lisboa, 25.11.18 O belo é belo. Uma tautologia. Sim, e não há como se enganar. E portanto talvez também uma teleologia, pelo menos para alguns artistas. Se é o belo que se procura sabemos sempre quando o encontramos, mesmo se depois decidimos rejeita-lo ou destrui-lo. E se um artista decide não procurar o belo, à partida? Parte para uma obra, um projecto ou uma exposição não à procura de um fim, mas com a intenção de assumir um risco, de explorar novas geografias, de ter novas experiências. Um risco é menos tautológico. Um risco não é só um risco. Em parte é isso que Ana Morgadinho assumiu fazer com esta exposição, HSD (Hic Sunt Dracones) - aqui há dragões - frase utilizada na cartografia medieval para designar territórios desconhecidos, ainda por descobrir, e portanto, à partida, arriscados, possivelmente perigosos. O processo de Morgadinho é sempre puxado pelo material e pelas possibilidades de ele produzir significado, através da observação do mundo e do trabalho de atelier. Que seja com materiais encontrados ou com materiais intencionalmente selecionados, à artista interessa trabalha-los, combina-los, até chegar a um desenho que faz sentido. De certa forma, até chegar ao belo. No entanto, com esta exposição a artista foi desafiada a tomar um novo percurso, foi convidada a materializar um projeto que tinha planeado em desenhos e esquemas de formas feitas com terra compactada, como taipa. As formas foram escolhidas em parte baseadas na arquitectura da galeria A Montanha, foram mandadas fabricar as cofragens, foram encomendados 1000Kg de terra da Alemanha, foram feitos ensaios, alguns que correram mal, quebrando as cofragens, outros que mostraram que os trabalhos ficam totalmente fixos no local onde foram criados, completamente inamovíveis, e portanto que têm que ser feitos in loco, no espaço da galeria, e assim, em três dias, Morgadinho, com alguma ajuda, irá criar as obras n’A Montanha. Tem tudo para ser belo, e tudo para correr mal. Esta poderá ser uma exposição sobre a intensa e simples beleza de materiais e práticas ancestrais, sobre o gesto repetido e a dor física para chegar à perfeição, seja onde for ou a lado nenhum (será isso possível?), sobre a ligação entre o moderno e o arcaico, sobre o fazer e o contemplar, sobre o formar, sobre o transformar, ou então sobre o falhanço, sobre o risco, sobre o perigo. Onde há dragões há fogo. A primeira exposição pode-se visualizar, a segunda não. Tanto uma como outra poder-se-ão contemplar. O falhanço também tem significado, e mesmo se este desafio tiver sucesso (que é o que se espera) a coragem de ter assumido o risco do falhanço é inerente ao processo, e isso já leva algures. Haverá sempre dragões? Quem sabe. Mas façamos com que haja sempre fogo. Eva Oddo |