ABACUS
[ab-uh-kuh s, uh-bak-uh s] noun, plural abacuses, abaci [ab-uh-sahy, -kahy, uh-bak-ahy] 1. a device for making arithmetic calculations, consisting of a frame set with rods on which balls or beads are moved. 2. Architecture. a slab forming the top of the capital of a column. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, ∞ Mathematics is one of the fundamentals of learning and the abacus is one of the fundamental, albeit archaic, instruments for its teaching. With mathematics come rules, progression, logic, but also abstraction. The abacus introduces tools that help understand the world, and, in its limitations, it also serves as a reminder that everything we learnt, and still learn, must eventually be left behind, because there are voids where no teaching reaches. “What is the last number, mummy? Is it 10?” “No, dear, it isn’t.” “Is it 100?” “No, no that either.” ∞ Like an abacus, Ana Morgadinho’s art contains within it the fundamentalist nature of its materiality and a fascination with the shape of the world, while at the same time admitting its own limitations and pointing to abstraction. Like an abacus, it recognises the beauty of knowledge and order, beauty which is formed by standards, classifications, links, rhythms. However, the work of the artist is also aware that this knowledge, just like itself, the artwork, and just like the abacus, are a trap: the solidity of Western ecclesiastical architecture lies at the mercy of the precariousness of a rickety structure, the friendly face of a Renaissance portrait painting lies on the path to a void. ∞ In the way that objects and images are combined, Ana’s art appears to be random, but this is also a trap that hides the research process, the process of trial and error, which is also a method used in scientific laboratories. In addition to this supposedly random combination of objects, there is an accumulation, not only of objects, but also of techniques. With these accumulations, the artist’s work also brings to mind a kunstkammer, a Renaissance cabinet of curiosities, dating to the beginning of the Age of Discovery, precursor to the encyclopaedic museums of today, where the aim was to show the wealth of this brave new world, but also of the owner of the collection. But, like everything, these collections contained within them small seeds of their own self-destruction, small forms of auto-sabotage, since not everything they contained was authentic. In this world no longer so new and certainly not very brave, where, geographically, at least, there seems to be nothing else to discover, the artist seduces us with what is recognisable and figurative, to then burst our expectations with the unexpected. A trap. ∞ However, the trap is already within us. The figurative, is, indeed, recognisable, but it is not, strictly speaking, more comprehensible than the void: an animal, a human face, the sea. ∞ Wunderkammer is another name for kunstkammer, a cabinet of wonders. The identifiable void is awesome, terrifying, haunting, but not necessarily the recognisable figurative is less so. The work of Ana proposes this as well. The pathway that her art offers does not always lead to the void. It will always be endless, but it will never be in vain. ∞ Eva Oddo |
á·ba·co (pt)
(latim abacus, -i) substantivo masculino 1. Aparelho para ensinar as crianças a contar. 2. Tabuleiro coberto de areia fina para as crianças traçarem com o dedo os primeiros delineamentos da escrita. 3. Parte superior do capitel da coluna. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, ∞ A matemática é um fundamento do ensino e o ábaco - aquele com as bolinhas em linha - um instrumento fundamental - mesmo se arcaico - ao seu ensino. Com a matemática vêm regras, progressão, lógica, mas também abstração. O ábaco introduz as ferramentas para perceber o mundo, e, na sua limitação, também lembra que, a certa altura, tudo o que se aprendeu, e que se aprende, vai ficar para trás, porque há vazios onde nenhuma aprendizagem chega. “Qual é o último número, mãe? É o 10?” “Não, querido, não é.” “É o 100?” “Não, também não.” ∞ Menos conhecido, mesmo se igualmente arcaico, é o ábaco como instrumento de ensino da escrita, e, este, por quanto se apoie em uma necessária materialidade, já assume abertamente as limitações do seu aparente objetivo, a maleabilidade da areia seca dando azo a uma dança infinita de inscrição e cancelamento, um simples gesto da mão retribuindo à areia as caraterísticas da lousa em branco, do nada. ∞ A arte de Ana Morgadinho prende-se, fundamentalmente, na materialidade do objeto. Como o ábaco instrumento de contagem, reconhece a beleza do conhecimento e da ordem, da ciência (do latim scientia, conhecimento) beleza que se forma com padrões, classificações, ligações, ritmos. No entanto, a obra da artista é também ciente que tanto este conhecimento como ela própria, o próprio objeto de arte, assim como o ábaco instrumento de contagem, são uma armadilha: a solidez da arquitetura eclesiástica ocidental jaz à mercê da precariedade de uma estrutura periclitante, uma cara amiga de um quadro renascentista é também um passadiço para o vazio. ∞ A obra de Ana distingue-se por aparentar uma casualidade, na combinação de objetos e imagens, mas isto é também uma armadilha que esconde o processo de pesquisa, o elemento de tentativa e erro, método aplicado nos laboratórios científicos. A esta supostamente casual combinação de objetos junta-se também uma acumulação, não só de objetos, mas também de técnicas. Nestas acumulações, a obra da artista lembra uma kunstkammer, um gabinete de curiosidades renascentista, do início do período dos descobrimentos, percursor dos museus enciclopédicos, onde o intuito era mostrar não só a riqueza deste admirável mundo novo mas também a do dono da coleção. Mas, assim como tudo, estas coleções já continham dentro de si pequenas sementes da sua autodestruição, pequenas formas de autossabotagem, dado que nem tudo era autêntico. Neste mundo já não tão novo e menos admirável onde, geográficamente pelo menos, já não parece haver nada para descobrir, a artista seduz com o que é reconhecível e figurativo, para depois rebentar as nossas expetativas com o inesperado. Uma armadilha. ∞ No entanto, a armadilha é já dentro de nós. O figurativo é, sim, reconhecível, mas não por isso é mais compreensível do que o vazio: um animal, uma cara humana, o mar. ∞ Wunderkammer era outro nome para a kunstkammer, um gabinete de maravilhas. O vazio inidentificável é surpreendente, apavorante, assombrador, mas não necessariamente o figurativo reconhecível o é menos. A obra de Ana admite isto também. O passadiço que a sua arte oferece não é sempre só para o vazio. Será sempre sem fim, mas nunca será em vão. ∞ Eva Oddo |